Lutar vale a pena: uma análise sobre a vitória contra a PEC da Blindagem
- atendimentopsol
- 25 de set.
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Por Mariana Sartor, Presidenta do PSOL Criciúma
As mobilizações sociais contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia deram um novo norte político para o país. Uma movimentação que iniciou na terça-feira, dia 16, quando a câmara dos deputados aprovou na calada da noite a PEC que blinda os parlamentares do sistema judiciário brasileiro. As denúncias feitas em tempo real por parlamentares como Sâmia Bomfim, Guilherme Boulos e Erika Hilton foram fundamentais para que o efeito “bola de neve” se criasse. Logo, as redes sociais estavam tomadas por indignação, cobrança e revolta. Era impossível ignorar o descontentamento da população com o resultado dos votos. E o que estava apenas no plano virtual logo se materializou nas ruas. Em menos de uma semana, a esquerda foi capaz de mobilizar centenas de milhares nas principais capitais do país no domingo, dia 21 de setembro. Uma data histórica. A seguir, compartilho uma análise e algumas lições que podemos extrair deste episódio.
O poder das redes
É preciso reconhecer o poder das redes sociais como instrumento de agitação política e social do nosso tempo. O compartilhamento de informações em tempo real, sobretudo quando feito de forma coordenada e simultânea por lideranças populares e perfis de grande alcance, produz efeitos potentes e atua como catalisador da indignação coletiva. A unidade na mensagem, e sobretudo a persistência em palavras de ordem, são decisivos: quando diferentes vozes “falam a mesma língua”, mesmo que em formatos diferentes, a revolta encontra direção. Em contrapartida, a dispersão de pautas e discursos enfraquece a capacidade de mobilização.

Além disso, as redes são espaços permanentes de disputa de narrativas - e dessa vez, quem dominou a pauta fomos nós. Segundo pesquisa do Instituto Quaest, 83% das menções à PEC da Blindagem foram negativas. E o chamado para as ruas no domingo foi um sucesso: o monitoramento de palavras-chaves em grupos pela Agência Palver apontou o crescimento de mensagens sobre as manifestações convocadas para o dia 21 após quinta-feira, dia 18. O fato mais interessante para nossa análise é que estas mensagens cresceram em grupos considerados “menos politizados” (menos radicalizados), ou seja, a convocação para os atos de domingo não só pautou o debate nas redes, mas furou a bolha e atingiu aqueles não polarizados, algo que o bolsonarismo foi incapaz de fazer no 07/09 (vale lembrar que os atos do 07 de setembro tiveram um longo período de preparo e divulgação).

A disputa política
Ao meu ver, um dos fatores que impulsionaram a adesão massiva às manifestações — tanto nas redes quanto nas ruas — foi o caráter antipolítico das propostas defendidas pelo Congresso Nacional. A percepção de que parlamentares estão legislando em benefício próprio reforça o sentimento generalizado de descrença nas instituições e na classe política como um todo. Esse sentimento de antipolítica e desesperança com a representação institucional ainda é presente na sociedade brasileira, como evidenciam os altos índices de abstenção e votos nulos nas últimas eleições.
É justamente nesse cenário que se abre uma oportunidade de diferenciação para o nosso campo. A votação da PEC da Blindagem teve um efeito pedagógico: deixou claro quem está ao lado do povo e quem atua para preservar privilégios, escancarando a disputa política e ideológica dentro do Congresso Nacional. Por isso, é fundamental rebater comentários com o sentido de que “todos os políticos são iguais”, ou que “direita e esquerda fazem parte do mesmo jogo”.
Mas isso só pode ser feito quando há coerência política, algo do qual o PSOL pode se orgulhar, sendo uma das bancadas que votou 100% contra a PEC, junto com PCdoB e Rede Sustentabilidade. Já os votos dos 12 deputados do PT e até os 9 votos do PSB favoráveis à PEC da Blindagem representam um erro político grotesco, um verdadeiro desserviço à base governista e ao campo democrático. Até a justificativa é vergonhosa: de que os votos eram parte de uma estratégia para, em acordo com o Centrão, ter apoio deste para o arquivamento do PL da Anistia.
Não existe acordo com o centrão
Ora, pensar que se pode negociar com o Centrão não é estratégia, é sinal de fraqueza (ou pior, de cumplicidade). E pior, pensar que as bases iriam aceitar esse discurso é subestimar o povo brasileiro. Que fique claro: não existe acordo com o centrão! Quem ainda acredita que é possível conciliar de forma estável com um Congresso moldado sob a lógica de Arthur Lira, sustentado por orçamentos secretos, ignora a realidade política – ou simplesmente é conivente com o erro. O Centrão não entrega nada sem cobrar um preço alto, e quase nunca é o povo quem se beneficia dessas barganhas.
Lutar vale a pena
Após intensa mobilização, pressão e um abaixo-assinado com mais de 1 milhão de assinaturas, a PEC da Blindagem foi arquivada no Senado. Lutar vale a pena! É preciso aproveitar este episódio como uma lição para as bases e filiados. Que cada militante entenda que a mobilização coletiva não é apenas simbólica: ela influencia decisões, fortalece a democracia e sobretudo, muda a realidade.
Organizar e avançar
A mobilização da última semana trouxe lições importantes: mostrou a força da organização coletiva, a importância da unidade e da disciplina. Que saibamos aproveitar este momento para transformar a indignação em ação organizada, fortalecer os vínculos com a militância e planejar estratégias para as disputas eleitorais de 2026.
Existe uma base social disposta a se mobilizar e é preciso se manter na ofensiva. A correlação de forças é dinâmica, e neste momento, ela nos dá margem para empurrar as fronteiras do possível.
Não é hora de recuar: devemos seguir pautando aquilo que é prioritário e que se conecta diretamente com a classe trabalhadora: o fim da escala 6x1, isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, com a taxação dos super-ricos, e continuar ecoando: sem anistia para golpistas!




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